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Livros. Notícias. Rumores. Apontamentos.

Um poema de António José Forte

AINDA NÃO 

 

Ainda não há dinheiro para partir de vez

não há espaço de mais para ficar

ainda não se pode abrir uma veia

e morrer antes de alguém chegar 

 

ainda não há uma flor na boca

para os poetas que estão aqui de passagem

e outra escarlate na alma

para os postos à margem 

 

ainda não há nada no pulmão direito

ainda não se respira como devia ser 

ainda não é por isso que choramos às vezes

e que outras somos horóis a valer 

 

ainda não é a pátria que é uma maçada

nem estar deste lado que custa a cabeça

ainda não há uma escada e outra escada depois

para descer à frente de quem quer que desça

 

ainda não há camas só para pesadelos

ainda não se ama só no chão

ainda não há uma granada 

ainda não há um coração 

 

António José Forte, in Uma Faca nos Dentes, ed. Parceria A.M. Pereira