Um poema de A.M. Pires Cabral
O VENTO
É fácil dizer que o vento
tem gatos na voz
enfurecidos.
Que afaga e despenteia,
traz a chuva.
Que levanta as telhas,
exercita na noite
os nossos mais pesados
pesadelos.
É fácil ser poeta
à custa do vento.
Fingir que não sabemos
que o vento não é senão
o vazio que muda de lugar.
A.M. Pires Cabral, in Arado, ed. Cotovia