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Livros. Notícias. Rumores. Apontamentos.

[NÃO POSSO ADIAR O AMOR PARA OUTRO SÉCULO]

 

Não posso adiar o amor para outro século

não posso

ainda que o grito sufoque na garganta

ainda que o ódio estale e crepite e arda

sob montanhas cinzentas

e montanhas cinzentas

 

Não posso adiar este abraço

que é uma arma de dois gumes

amor e ódio

 

Não posso adiar

ainda que a noite pese séculos sobre as costas

e a aurora indecisa demore

não posso adiar para outro século a minha vida

nem o meu amor

nem o meu grito de libertação

 

Não posso adiar o coração

 

[António Ramos Rosa (1924-2013), Viagem Através duma Nebulosa. Ática, 1960]

Manuel António Pina (1943-2012)

 

[AOS MEUS LIVROS]

 

Chamaram-vos tudo, interessantes, pequenos, grandes,
ou apenas se calaram, ou fecharam os longos ouvidos
à vossa inútil voz passada
em sujos espelhos buscando
o rosto e as lágrimas que (eu é que sei!)
me pertenciam, pois era eu quem chorava.

 

Um bancário calculava
que tínheis curto saldo
de metáforas; e feitas as contas
(porque os tempos iam para contas)
a questão era outra e ainda menos numerosa
(e seguramente, aliás, em prosa).

 

Agora, passando ainda para sempre,
olhais-me impacientemente;
como poderíamos, vós e eu, escapar
sem de novo o trair, a esse olhar?
Levai-me então pela mão, como nos levam
os filhos pela mão: sem que se apercebam.


Partiram todos, os salões onde ecoavam
ainda há pouco os risos dos convidados
estão vazios; como vós agora, meus livros:
papéis pelo chão, restos, confusos sentidos.
E só nós sabemos
que morremos sozinhos.
(Ao menos escaparemos
à piedade dos vizinhos)


[Poesia, Saudade da Prosa - uma antologia pessoal, Assírio & Alvim, 2011]

Fotografia de Pedro Loureiro

Rosa Alice Branco será a representante portuguesa nas «Olímpiadas da Poesia»

Há quem lhe chame já o maior encontro de poetas da História. Com o objetivo de escolher um poeta por cada uma das 204 nações presentes nos Jogos Olímpicos de Londres, um júri contou com a ajuda de leitores de todo o mundo. De acordo com a lista final, Rosa Alice Branco será a representante de Portugal na «Poetry Parnassus», semana  londrina (de 26 de junho a 1 de julho) onde se espera quase tudo, até o lançamento de 100 mil poemas de helicóptero. Toda a história aqui.

Wislawa Szymborska (1923-2012)

ALGUNS GOSTAM DE POESIA

 

Alguns —
quer dizer nem todos.
Nem a maioria de todos, mas a minoria.
Excluindo escolas, onde se deve,
e os próprios poetas
serão talvez dois em mil.

 

Gostam —
mas também se gosta de canja de massa,
gosta-se da lisonja e da cor azul,
gosta-se de um velho cachecol,
gosta-se de levar a sua avante,
gosta-se de fazer festas a um cão.

 

De poesia —
mas o que é a poesia?
Algumas respostas vagas
já foram dadas,
mas eu não sei e não sei, e a isto me agarro
como a um corrimão providencial.

 

Poema da Nobel polaca Wisława Szymborska.

«Poesia em Vinyl» com Valter Hugo Mãe

O autor de o apocalipse dos trabalhadores é o primeiro convidado de «Poesia em Vinyl», projecto organizado por Raquel Marinho e Luís Filipe Cristóvão. Anote: sessão inaugural dia 14 de Janeiro, no restaurante Vinyl (Travessa da Galé, 36, em Alcântara, junto da antiga FIL), a partir das 21h30. Valter Hugo Mãe falará dos seus poemas, com leituras de Fernando Alves e música de JP Simões. A entrada é livre.
 
 «A Poesia em Vinyl é um projecto que pretende divulgar novos poetas e novos músicos, num mesmo evento, a decorrer uma vez por mês, nos primeiros seis meses de 2010. O evento realiza-se no restaurante/bar  Vinyl, situado no edifício da Orquestra Metropolitana de Lisboa.  Os poetas convidados nasceram todos depois de 1970 e têm vários livros disponíveis no mercado. A ideia é dar-lhes um espaço onde possam falar sobre si próprios e a sua poesia, seguido de uma leitura de alguns dos seus poemas. Vai também ser convidada uma figura pública para, no final desta apresentação, e antes de dar a palavra ao público, ler um poema do poeta da noite. Uma vez que o Poesia em Vinyl vai decorrer num restaurante, os poetas são também convidados a escolher uma entrada, ou uma sobremesa, ou um petisco de que gostem. A conversa da noite começará, assim, à volta dessa escolha gastronómica do poeta, que é uma forma de começar a quebrar eventuais gelos de início de noite.»

Luís Filipe Cristóvão

José Emilio Pacheco

Antes de receber a 18ª edição do Prémio Rainha Sofia de Poesia Iberoamericana (17 de Novembro), o poeta mexicano merece destaque no El PaísCon 20 años piensas que tal vez un día llegues a escribir con una facilidad, con una certeza y un conocimiento... Y no, nunca. Siempre es por primera vez, siempre. Y, además, la mayoría de las cosas salen muy mal. La mayoría de los textos que haces son malísimos, para que uno te salga bien necesitas hacer 50 muy malos