À cabeça teriam de figurar três dos grandes clássicos da moderna literatura de viagens; uma trilogia de respeito – Chatwin, Byron (este, não o outro) e Theroux. Theroux e Chatwin, para provar a sua fixação, assinaram depois um livro em conjunto, com o título Regresso à Patagónia; o livro de Byron continua a ser uma referência (inclusive para Chatwin). Quanto a Kerouac, toda a gente espera que se cite Pela Estrada Fora; mas Os Vagabundos do Dharma é mais «radical», mais «intenso» e é o primeiro a ser eliminado em qualquer bibliografia bem educada.
Bruce Chatwin, Na Patagónia [Quetzal]
Robert Byron, A Estrada para Oxiana [Tinta da China]
Paul Theroux, O Velho Expresso da Patagónia [Quetzal]
Geoff Dyer, Yoga para Pessoas que não Estão para fazer Yoga [Quetzal]
Bill Bryson, Por aqui e por ali [Bertrand]
Jack Kerouac, Os Vagabundos do Dharma [Relógio d’Água]
Paul Theroux, Comboio-Fantasma Para o Oriente [Quetzal]
Paul Bowles, Viagens [Quetzal]
John Steinbeck, Viagens com o Charley [Livros do Brasil]
Histórias de guerras e dos campos enlameados: Tosltoi seria inevitável para ouvir o troar dos canhões, mas há histórias superlativas à volta da guerra e algumas não estão aqui, como as de Evelyn Waugh ou Winston Churchill – nem as de Carlos Vale Ferraz sobre a guerra colonial. O peso monumental de Vida e Destino cobre toda a II Guerra vista a partir da União Soviética (o manuscrito foi apreendido e o autor humilhado até à morte), a minúcia lendária de James Jones e as cinzas de Austerliz, de Sebald, são também uma forma de verificar os horrores e o ferro em brasa. Restam o humor e a irracionalidade, no fim de tudo: Catch 22, de Joseph Heller.
Lev Tolstoi, Guerra e Paz [Presença]
Erich Maria Remarque, A Oeste Nada de Novo [Camões & Companhia]
W.G. Sebald, Austerlitz [Quetzal]
Ernest Hemingway, Por Quem os Sinos Dobram [Caminho]
Margaret Mitchell, E Tudo o Vento Levou [Contexto]
Norman Mailer, Os Nus e os Mortos [Caminho]
J.G. Ballard, O Império do Sol [Livros do Brasil]
Vassili Grossman, Vida e Destino [D. Quixote]
James Jones, A Barreira Invisível [Europa-América]
Cultural Amnesia: Notes in the Margin of My Time Clive James, Picador Será possível que um personagem televisivo aparentemente «ligeiro» seja um dos maiores ensaístas vivos? É possível, sim: Clive James, em Cultural Amnesia, organiza alfabeticamente uma centena de retratos literários, de Akhmatova (Anna) a Zweig (Stefan), passando pelo nosso Saramago (José). Aliás, o ensaio dedicado a Saramago resume bem a genialidade de Clive James: uma mistura de erudição e sentido crítico, com toques de crueldade sarcástica.
Artists in Exile: How Refugees from Twentieth-Century War and Revolution Transformed the American Performing Arts Joseph Horowitz, Harper Nas discussões da praxe, acusa-se a «cultura americana» de desempenhar um papel opressivo/imperialista/globalizador (riscar o que não interessa) sobre culturas alheias. A conversa tende a esquecer dois pormenores: primeiro, não existe «cultura» americana, em bloco homogéneo; existem «culturas» no interior de um mesmo espaço geográfico; e, em segundo lugar, o que passa por «cultura americana» é, na verdade, o contributo de artistas de procedências várias (Balanchine, Aronson, Lang, Nabokov) que encontraram na América, e sobretudo no tenebroso século XX, um porto de abrigo.
The Rest is Noise: Listening to the Twentieth Century Alex Ross, Farrar, Straus and Giroux Finalmente, uma história da música no século XX, escrita pelo brilhante crítico da New Yorker, que faz justiça a certos nomes injustamente ignorados, ou até ridicularizados, como Sibelius ou Samuel Britten. Ou a prova definitiva de que é possível escrever sobre a mais intangível das artes com carnadura histórica e clareza estilística.
The Book Against God James Wood, Jonathan Cape Como sobreviver à perda num mundo onde a possibilidade de Deus nos está interdita? A resposta a esta inquietação metafísica está neste primeiro romance de James Wood, primus inter pares da crítica highbrow e novelista promissor.
The Politics of Faith and the Politics of Scepticism Michael Oakeshott, Yale Pessoalmente, nenhum outro filósofo me impressionou ou influenciou tanto como Michael Oakeshott, quer pela forma, quer pelo conteúdo. E apesar de existirem obras mais filosoficamente significativas deste autor (como On Human Conduct, por exemplo), a verdade é que este The Politics of Faith..., descoberto e publicado postumamente, é a melhor introdução ao pensamento do autor: uma investigação sobre os dois pólos ideais em que parece oscilar a actividade política na época moderna, investigação que deve ser prévia à questão fulcral: «O que deve o poder político fazer?»
Texto publicado na edição de Setembro da LER (fotografia de Jordi Burch).