«Tornou-se insuportável a situação da Objectiva, editora que chancela todos os meus livros disponíveis. A ausência dos livros no mercado, durante quase seis meses, e a opção por uma nova distribuidora que é especialista em revistas e absolutamente despreparada para a realidade livreira, está a deixar-me no limite», escreve Valter Hugo Mãe na sua página oficial no Facebook. «Não suporto mais as infinitas perguntas acerca de como se podem conseguir livros meus, quando estes deveriam estar disponíveis em todo o lado, pelo interesse dos livreiros e pela procura generosa que têm merecido dos leitores ao longo dos anos. Sinto-me absolutamente decapitado pela minha editora e não poderei tolerar mais esta situação.»
Em outubro, com o volume que reúne Primeiros Poemas, As Mãos e os Frutos e Os Amantes sem Dinheiro, a Assírio & Alvim assinala o início da publicação da Obra Completa de Eugénio de Andrade. «Serão ainda editados», acrescenta a editora, «diversos livros que Eugénio de Andrade organizou e traduziu (García Lorca, Safo, Mariana Alcoforado e a antologia Trocar de Rosa), dois livros infantis (Égua Branca e Aquela Nuvem e Outras) e algumas antologias que preparou (Antologia de Poesia Portuguesa Contemporânea, Poemas Portugueses para a Juventude, Sonetos de Camões escolhidos por Eugénio de Andrade e Versos e Alguma Prosa de Luís de Camões.»
Arturo Pérez-Reverte começou há poucas semanas a publicar as notas do seu próximo romance em novelaenconstruccion.com. «Seguirán en los próximos meses, sin método ni periodicidad fija, algunas de mis notas breves sobre el trabajo en curso. Se trata de una novela no histórica, empezada el 7 de enero de 2011 (aunque su origen sea muy anterior), que poco a poco parece encaminarse a su recorrido final.»
«Escrever é tentar dar uma forma ao acaso. E dar uma forma à vida. A vida, em si, de facto, não tem forma nenhuma. É como um frango em gelatina. Qual é a lógica entre as coisas? Realmente, não há.»
Entrevista a Carlos Vaz Marques, abril de 2009 [LER nº 79].
«Cada vez más me encuentro gente que viene del área de las ciencias, de las Matemáticas y de la Filosofía que ven a Borges como el Julio Verne del siglo XX ya que con sus cuentos de los años cuarenta, marcó los caminos y descubrió cosas imaginarias que luego la ciencia ha logrado realizar.» María Kodama, viúva do escritor argentino, na inauguração da cátedra Jorge Luis Borges na Universidad Nacional de Cuyo.
O autor de Que Cavalos São Aqueles Que Fazem Sombra no Mar? será o único português, entre 30 escritores estrangeiros, presente no Salon du Livre, em Paris — cuja 30ª edição começa hoje e prolonga-se até 31 de Março —, onde tem marcada uma conversa com o francês Jean d' Ormesson. A Dom Quixote acaba de anunicar ainda que António Lobo Antunes «já concluiu o seu mais recente romance», sem título conhecido, com lançamento previsto para Outubro.
«Eu dizia-lhe que queria ser escritor, que tinha 15 anos e ele respondeu-me com uma carta de uma imensa ternura: ‘Não tenho fotografia porque não sou actor de cinema. Mas se queres ser escritor vê lá porque depois não podes ir ao cinema, não podes ter namoradas, não podes não sei lá o quê… Porque escrever é uma coisa muito difícil e exige muito tempo, tens que passar a vida agarrado ao livro…’ Tinha toda a razão no que estava a dizer. Eu aos quinze anos sabia lá o que era escrever! Escrevia porcarias como qualquer miúdo, tinha dentro de mim a certeza de que ninguém ia escrever coisas como as que eu havia de escrever e só escrevia merda. E fiquei maravilhado. Lembro-me de ter andado todo o tempo que pude com o envelope daquela carta porque tinha o meu nome escrito pela mão dele. Nunca tinha tido contacto com nenhum escritor e até à saída da ‘Memória de Elefante’ também não conhecia ninguém.»
Artigo completo de Isabel Coutinho a partir daqui.
«Sometimes the literary idea conquered him. In one passage, for example, he writes that the fish in Lake Victoria in Uganda had grown big from feasting on people killed by Idi Amin. It's a colourful and terrifying metaphor. In fact, the fish got larger after eating smaller fish from the Nile. Kapuscinski was experimenting in journalism. He wasn't aware he had crossed the line between journalism and literature. I still think his books are wonderful and precious. But ultimately, they belong to fiction.»
Artur Domoslawski, autor de uma biografia de 600 páginas sobre Ryszard Kapuscinski, lançada ontem na Polónia, em declarações ao Guardian.
Agustina Bessa-Luís completa hoje 87 anos. Dedicámos-lhe a capa em Janeiro e um especial de 18 páginas (PDF disponível na coluna à esquerda, «Agustina, a indomável»).
Em 1953, uma autora já conhecida de leitores atentos, publica um livro que inaugura uma data na ficção portuguesa contemporânea. O título famoso, como sabemos, é A Sibila, título profético no qual Agustina Bessa-Luís profetiza o seu próprio destino e a sua vocação de vidente e visionária. Esse título representou na época, para quem estava atento, o fim de uma hegemonia que, desde há 15 anos dominava, com razões para isso, o panorama da ficção portuguesa, aquilo a que se chamou neo-realismo. A Sibila não é um romance que se coloque em qualquer oposição, ou ideário, à prática ficcional desse neo-realismo. É um livro que começa num outro lugar. O lugar que não existia antes dele, pela originalidade da história, pela temporalidade ficcional que é a da memória, ela própria tão inventada como realisticamente evocada, em suma, um tipo de ficção que noutras paragens já tinha obras em que Agustina se podia inspirar, mas que ela renovou e preencheu de um tipo de vivências não só da sua memória subjectiva como do inconsciente duma cultura do Portugal mais arcaico, ou melhor, do imemorial. Essa obra foi seguida de uma produção torrencial sem precedentes na nossa literatura mesmo se nela integramos Camilo – um dos referentes da cultura desse imemorial que ela levará até à sua incandescência. Mais tarde, a cultura portuguesa aperceber-se-á que além da originalidade literária de A Sibila enquanto ficção e escrita, uma escrita por vezes aleatória e fantasmagórica, essa obra instaurava sem que ainda se soubesse muito bem uma espécie de longo reinado da literatura feminina em Portugal. No caso dela, mais feminina do que feminista – que Agustina não é nem nessa perspectiva uma ideóloga mas um exemplo da sua ficção povoada de personagens femininas entre as quais a do seu primeiro livro, Mundo Fechado, que impôs um mundo da mulher até então subalternizado com uma evidência que as suas sucessoras receberam já como uma herança natural. Até porque Agustina tinha demasiado humor para ser feminista – sobre as outras mulheres. E, por incrível que possa parecer e muitas vezes não é entendida, sobre ela própria. Pouco a pouco, Agustina impôs-se como uma paisagem literária sem igual na nossa literatura com livros como A Muralha, Os Incuráveis, O Manto, e mais tarde outros que adquiriram uma segunda vida através do cinema de Manoel de Oliveira como Fanny Owen ou Vale Abraão impuseram-se e entraram não só no imaginário nacional mas universal. Infelizmente, a escrita constantemente paradoxal e surpreendente de Agustina ainda não encontrou, pela sua dificuldade, o eco que merece. Mas pode esperar. Num livro que particularmente me deslumbrou – Um Cão Que Sonha – Agustina revisita a sua juventude e dá-nos um pouco a misteriosa e insólita perspectiva da sua ficção, como destinada a ser devorada por um outro que será o autor da sua obra em vez dela. Como se ela, que, como é sabido, tão pouco aprecia Fernando Pessoa, inventasse um mito da sua criação proliferante para se converter numa ficção sem autor. E isto pode ser uma fábula que resume o que trouxe realmente de novo Agustina para a ficção da sua época. Menos uma voz que narcisicamente inventa um mundo para se afirmar através dele do que para ser, por assim dizer, a voz anónima das múltiplas memórias do seu universo povoado de figuras cada uma resumindo a extravagância da vida como se fossem seres da natureza indomáveis e imortais. Como ela.
Tal como Michel Houllebecq, Julian Barnes, Javier Marías ou Richard Ford, também Ian McEwan participou no seminário «La ciudad y las palabras», da Universidade Católica do Chile. Mas não só. Reportagem completa aqui.