Shakespeare, tradução de Vasco Graça Moura
SONETO LVI
Renova a força, amor, e não se diga
que tens mais rombo fio que apetite
que a fome por um dia só mitiga
e seu gume amanhã de novo excite.
Se assim, amor, embora hoje alimentes
o olhar faminto até que pisca cheio,
volta a ver amanhã e não violentes
o espírito de amor com longo enleio.
Seja esta triste pausa qual oceano
a terra dividindo e onde um par
vem cada dia à praia e vendo ufano
que volta amor, bendiz o que avistar.
Ou chama a isso inverno que ansioso
torna o verão três vezes mais precioso.