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Meursault, de novo

Kamel Daoud, o autor argelino de Meursault, Contra-Investigação (publicado em Portugal pela Teodolito), recebeu o prémio Jean-Luc Lagardère, destinado a escolher «o jornalista do ano» — neste caso, pelas suas crónicas no semanário Le Point. Daoud tem sido alvo de várias ameaças dos imãs argelinos bem como de críticas de professores das universidades francesas (curioso, não?).

A última das fatwas contra Daoud veio do imã Abdelfatah Hamadache Ziraoui, que pediu que também as autoridades argelinas condenassem à morte o escritor depois de este ter criticado, num programa de televisão, as relações entre os muçulmanos e a sua religião. A justiça argelina condenou o imã a seis meses de prisão.

 

  • COMENTÁRIO      O escritor argelino Kamel Daoud, autor do premiado e magnífico Mersault, Contra-Investigação (Teodolito), tomou posição – na sequência dos «acontecimentos de Colónia» – sobre o assédio e a violência sexual nos países muçulmanos e nas comunidades árabes dominadas por autoridades religiosas. Um grupo de inteletuais respondeu, no mesmo jornal (Le Monde), acusando-o de «culturalismo e orientalismo», «essencialista» ou – claro – islamófobo, por «não compreender» a rapaziada; a ideia, escreveu a escritora tunisina Fawzia Zouari (no Libération), é a de que os inteletuais de Paris não concebem que escritores como Kamel Daoud ou Boualem Samsal (o autor de 2084), vindos do campo de batalha (ambos são argelinos) possam pensar por si próprios, pondo em causa o saber universitário e as suas categorias – e escapando com vida às fatwas. FJV