Comentário: o que fazer com os turistas?
Os turistas – o que fazer com eles? Observá-los, como a todos os outros seres humanos.
Há dias, num hotel da capital, tive uma oportunidade magnífica para realizar esse exercício. De manhã, dirigi-me ao restaurante para tomar o pequeno-almoço. Um rapaz de farda, acne e gaguez pediu-me para aguardar. Por fim, indicou-me uma mesa perto da janela. Fui. A meio caminho, um grupo de quatro alemães (dois casais), insatisfeitos com a mesa que lhe fora atribuída pouco antes, ocupou a que me tinha sido destinada.
Ali fiquei, desamparado e perdido entre os alemães, com o jovem funcionário do hotel, tão perdido quanto eu. Creio que teria ordens para não abandonar o posto onde se encontrava. Olhei para ele e apercebi-me do pavor ruborizado. Eu só queria que me indicasse uma mesa alternativa e não que me apoiasse num conflito luso-alemão de consequências desastrosas para o nosso turismo, com notícia de trocas de agressões no Frankfurter Allgemeine e críticas negativas no TripAdvisor. Um outro funcionário do hotel dirigiu-se aos alemães, dizendo-lhes que tinham ocupado indevidamente aquela mesa, mas foi enxotado com um simples gesto de mão. Fez sinal ao colega, confessando a impossibilidade de remover o pesado quarteto daquela mesa. À espera de uma orientação e do meu pequeno-almoço, eu continuava ali, a observar esta comédia de costumes. Deveria ignorar as regras e ocupar uma mesa qualquer? Ou tal atrevimento só é consentido aos que vêm de fora? Como qualquer burguês, tenho horror ao escândalo público, não pelo temor do confronto, mas por excesso de consciência do ridículo. A minha hesitação durou o suficiente para que a mesa mais indesejada – no extremo oposto ao da janela – vagasse e o funcionário, apologético e atrapalhado, me encaminhasse para lá com um gesto cheio de ombros, sobrancelhas e tremores que apelava à minha boa-vontade e a uma reconfortante solidariedade nacional. Os alemães – ruidosos e terra-tenentes – devoravam ovos mexidos e sorviam sumos naturais. No meu exíguo e sombrio cantinho pensei que turismo é uma coisa, luta pelo lebensraum é outra. B.V.A.