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Comentário: dos usos da inútil gramática.

A «competência comunicativa» permite que um cachorro estenda a pata à dona – mas não é isso que faz a grande virtude das línguas.

 

São cada vez mais populares na Austrália, segundo o tão louvado The Guardian (por isso não desconfiem já de mim), as «aulas e cursos livres de gramática». Leram bem. Gramática. É uma ocupação de classe média e grupos tão diversos como advogados, editores, professores ou médicos e responsáveis da administração pública recorrem a esses cursos. E porquê este interesse por orações subordinadas, complementos diretos, verbos irregulares ou apenas pura ortografia e filologia? Porque, escreve Kate Jinx, escritora e realizadora, a gramática foi desvalorizada e eliminada dos currículos escolares a partir dos anos 70 – tendo surgido, desvairada e sombria, a “síndrome do impostor”, ou seja, a sensação de que, independentemente do grau de sucesso da sua carreira profissional, há uma clara falta de bases lá atrás, e por culpa do sistema de ensino.

Escrever corretamente, escrever em bom Português, apreciar as lições dos mestres, também deixou de ser uma preocupação geral; bastaria a «competência comunicativa», uma coisa que permite que um cachorro estenda a pata à dona ou que saibamos onde é a casa de banho num hospital. Com a agravante de, em Portugal, ninguém se interessar, mesmo, por gramática. F.J.V.