Leitura cuidada
Os cem melhores livros de 2008 segundo o New York Times.
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Os cem melhores livros de 2008 segundo o New York Times.
A poucos dias das eleições norte-americanas (4 de Novembro), eis uma lista dos livros (na maioria best-sellers) que só foram escritos porque George W. Bush chegou à Casa Branca. Um filão para as editoras.
As Aventuras de Tom Sawyer, de Mark Twain, lido, em português, numa adaptação da Portugália. Durante um Verão, aos 13 anos, sonhei transformar-me naquele rapazinho rebelde, vivendo perto de um rio chamado Mississípi.
O Monte dos Vendavais, de Emily Brontë, (de que há uma tradução portuguesa na Relógio d’Água), uma obra sobre a qual tão profundamente meditei que ia dando cabo da minha vida: identifiquei-me com Catherine, a criatura que se apaixona pelo malvado Heathcliff.
George Orwell, o das reportagens, como The Road to Wigan Pier (sobre a vida nas comunidades mineiras do Lancashire e Yorkshire nos anos 30) e o do jornalismo: considero Politics and the English Language um dos ensaios mais lúcidos jamais publicados. (Está acessível em português, na excelente tradução de Desidério Murcho, em Por Que Escrevo e Outros Ensaios, da Antígona.) É o amor de Orwell pela liberdade e o estilo da sua prosa que me interessam.
Da Democracia na América, de Alexis de Tocqueville. Ninguém, como ele, apontou as fraquezas e as forças da democracia; ninguém, como ele, teve a percepção do que um governo democrático pode conseguir ou pôr em perigo; ninguém, como ele, entendeu o dilema entre a igualdade e a liberdade. (Existe uma óptima tradução de Miguel Serras Pereira na Relógio d’Água.)
Pais e Filhos, de Ivan Turgueniev, pela construção, pelo estilo, pela concisão, pelas personagens, pela análise de uma sociedade em transição. (Há uma tradução portuguesa na Relógio d’Água.)
O 18 Brumário de Luís Bonaparte, que mostra como, além de panfletário, economista e pensador utópico, Karl Marx podia ser um grande historiador, capaz de, em cima do acontecimento – o golpe de Estado de 2 de Dezembro de 1851 – analisar as suas causas.
Os Maias, de Eça de Queirós, porque revolucionou a prosa portuguesa. É preciso não esquecer também o seu jornalismo, de que destaco a análise feita sobre o Ultimatum de 1890, intitulada «Novos Factores da Política Portuguesa». (Pode ser lida na colectânea que organizei para a editora Principia, intitulada Eça de Queirós, Jornalista.)
O Livro de Cesário Verde, que me devolveu o gosto por ler poesia em português.
Texto publicado na edição de Outubro da revista LER. Fotografia de Dora Nogueira.
Personagem vazia: Bernardo Soares, do Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa, personagem tão plasticamente vazia, entediante, arrastante, lenta, amolentada, meditabunda, aporética e céptica de um cepticismo que nada de nada conclui, que de si – um permanente nada – só nada pode sair.
Personagem trágica: Margarida Dulmo, de Mau Tempo no Canal, de Vitorino Nemésio. Personagem caracterizada por um sentimento de falha, uma ausência de futuro – que não seja o futuro do tédio. Neste caso, a tragédia não reside na vontade de lutar ou no desejo de desafiar, mas na sua renúncia e na consequente interiorização de um profundo luto pela vida que nunca se terá. A tragédia – a pior das tragédias actuais – evidencia que, depois do seu casamento com André, Margarida não tem história, deixou de haver história para Margarida, estará viva para os filhos e para a sociedade e morta para si própria.
Personagem cosmopolita: Fradique Mendes, de Correspondência de Fradique Mendes, de Eça de Queirós. Uma personalidade não indiferentista e não eclectista, mas suficientemente distante dos sistemas filosóficos, das crenças religiosas e das políticas institucionais para os poder criticar, mas também suficientemente interessado e empenhado para os poder vivenciar. Fradique é, no que tem de melhor, todos os homens de todas as civilizações, segundo uma visão humanista e universalizante, antropologicamente ideal. Em Fradique reside síntese suprema de todos os homens: de todos os intelectuais e sábios, de todos os viajantes e nómadas, de todos os poderosos e distintos, de todos sacerdotes e crentes, de todos os servos e trabalhadores.
Personagem colectiva: a «arraia-miúda» da Crónica de D. João I, de Fernão Lopes, e fundir hoje a vontade, o ânimo, a força, a coragem do povo miúdo contra os poderosos da Governadoria, expulsando os eternos imbecis e incultos que nos governam, refundando Portugal, uma sociedade abastada, libérrima, igualitarista, sem dois milhões de pobres e oito milhões de ignorantes culturais.
Personagem histórica: Fernão Mendes Pinto, o «pobre de mim», narrado pelo próprio em Peregrinação, a personagem cafrealizada do português miúdo à solta no Império, liberto da moral cristã e da lei do reino, profanador de túmulos, pirata do rio, canibal se preciso, rapinador de aldeias, abandonado ao exclusivo fito de enriquecimento. Mas também capaz de suprema devoção (Fernão Mendes Pinto faz-se jesuíta em Goa).
Texto publicado na edição de Outubro da revista LER. Fotografia de Pedro Loureiro.
Os dez autores mais bem pagos do mundo, segundo a Forbes: JK Rowling, James Patterson, Stephen King, Tom Clancy, Danielle Steel, John Grisham, Dean Koontz, Ken Follett, Janet Evanovich e Nicholas Sparks.
Os 50 maiores vilões na literatura, segundo os críticos do Telegraph.