«Todos os meus livros têm esse outro mundo, que me é natural: o mundo do humor e da ironia»
«Quando terminei de escrever Aprender a Rezar na Era da Técnica estava de tal forma cansado que naturalmente fui escrever «Os Senhores» [da série «O Bairro»], que são coisas que me são naturais. Eu tenho naturalmente uma certa ironia, portanto tudo aquilo me é natural. Tenho, por vezes, a imagem de pessoa cerebral e pessimista e tal mas «O Bairro» é um outro mundo. E acho que todos os meus livros têm esse outro mundo, que me é natural: o mundo do humor e da ironia. Como se as palavras fossem coisas materiais e nós pudéssemos ver as costas das palavras, a parte de baixo das palavras; como se pudéssemos levantar a saia das palavras. Instintivamente, quando recebo uma frase, quando ouço uma frase, é como se me movimentasse em redor dessa frase. A ironia é não recebermos uma frase exactamente como ela nos surge e tentarmos ler o outro lado do que se está a dizer. Isso é-me muito natural.» Excerto da entrevista de Gonçalo M. Tavares que poderá ler no número de Dezembro.
[Fotografia de Pedro Loureiro]