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Anatomia do ensaio e do fragmento

O novo livro de João Barrento, O Género Intranquilo (ed. Assírio & Alvim), apresentado há dias por Eduardo Lourenço, já está nas livrarias. «Arrumo os fragmentos segundo uma ordem possível, afino a escrita, aparo a acutilância do conceito, tento um princípio organizativo que evidencie a progressão da experiência, do fenómeno – disseminado, anárquico – para a ideia –, concisa, fulguração a caminho de uma síntese. Acorrem primeiro imagens, metáforas produtivas, a palavra-maná que alimenta o delírio conformável a uma qualquer tecitura. Depois, pouco a pouco, o aglomerado informe poderá ir-se consolidando, convergindo para definições lapidares, provisórias, feixe de energia irradiante que permite ao pensamento ir progredindo. No acto de fruição dessas imagens – como alguém disse de um praticante do ensaio tão especial como Walter Benjamin – o sujeito vive-se já como ensaísta que soberanamente domina o mundo e que, no caleidoscópio do seu texto, faz fulgurar sempre novas conexões. (Poderá o ensaio sobre o ensaio ser, ele próprio, uma demonstração viva de uma teoria ou fenomenologia do ensaio? Pode pelo menos, a cada momento, dar a ver ao leitor o lugar onde está, o patamar a que acedeu, o caminho que segue.)»

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