No The Independent de hoje, artigo assinado pela correspondente em Madrid: «Portugal may have to recognise the inevitable by bowing to the economic and cultural predominance of Brazil, its former colony. The once proud imperial power is considering reforming its language to accommodate recent linguistic developments in the South American economic powerhouse, with which it shares a language.»
Isto já parece mais um «acordo etnográfico», em que nós, portugueses, somos a tribo perdida da Ibéria, sob o olhar atento do mundo civilizado. Já não falamos uma língua do mundo, nem o mundo é a nossa pátria. Somos o mirandês do Brasil.
Sobre esta vergonha, em que alguns querem para a cultura portuguesa um tratado semelhante ao que foi para a soberania Francesa o de Vichy, escreveu, e muito bem, Vitorino Magalhães Godinho do JL.
Mas os interesses económicos do Brasil são muitos e o petróleo compra muita coisa.
Bem, a senhora do "Independent" fez um novo acordo ortográfico. Acção (ou ação) ficou sem cedilha e sem til. Húmido também o perdeu.
Ou seja, isto para eles é uma questão de folclore e imperialismo cultural. Como se os ingleses achassem uma certa piada ao facto de se ter perdido o "Império Colonial" e agora os desgraçados dos portugueses nem conseguirem aguentar a ortografia.
É verdade que existe orgulho. Em não ceder a interesses comerciais e políticos.
Nos últimos três meses li três livros da Patrícia Melo ("Mundo Perdido", "Matador", "Valsa Negra"), li "O meu nome não é Johny", li "O intruso" (Marçal Aquino), li o "Tropa de Elite". Estou a ler "Ela e outras mulheres" (Rubem Fonseca). E não me parece lógico que haja uma tradução destes livros para o português de Portugal. Para que servem as notas de rodapé?
Experimentem ler a "Tieta do Agreste" (Jorge Amado) com a nova ortografia. Há muitas questões vocabulares que continuam indecifráveis.
O acordo não vai aproximar os brasileiros da literatura portuguesa, nem os vais fazer compreenderem-nos melhor. Quando falamos, se eles não nos compreendem, o problema não está na grafia.
Anote-se o gozo da autora, perante um "problema" que em Inlglaterra teria sido resolvido em dez minutos, com uma gargalha. E apreende o essencial: que Portugal se verga irracionalmente aos ditames do nacionalismo da sua ex-colónia, um país do 3º mundo, pouco conhecido pelos seus feitos culturais.
O artigo do Independent é muito falacioso e parcial e, contudo, deve ser lido como a imagem que estes diálogos e debates à volta do acordo geram para o panorama internacional.
Se o acordo vingar será a maior vilania a que o povo português se permitiu, o maior atentado à sua própria identidade perpetrado com a habitual permissividade dos nossos fracos líderes.
As mudanças que o acordo implica não são uma questão de grau (1,2% ou mais segundo a sua frequência, poderia apenas ser uma palavra). É a natureza da sua inserção, um enxerto perfeitamente exógeno e desregulado.
Obrigado pelo link Tiago. Não sabia que já existia uma petição destas em curso. Esta petição vai estar aberta até quando? Estão á espera de um número certo de assinantes, para poderem entregar este baixo-assinado ás entidades (in)competentes?