No próximo dia 12 de novembro, às 21h30, no espaço Nimas, em Lisboa, Don DeLillo lerá excertos de Submundo (Sextante, 2010) e apresentará a tradução portuguesa de Libra (romance de 1988 agora publicado pela Sextante), no âmbito do Lisbon & Estoril Film Festival’13.
Eu achava que ia morrer virgem, que era tão feio que nunca ninguém me tocaria, achava que nunca arranjaria emprego, que levaria milénios para aprender a fazer alguma coisa, nunca procurei uma editora para editar nada, pensei sempre que escrevia para me ajudar a pensar melhor e sobretudo para fugir da burrice, para não ser tão estúpido e tão alheio à inteligência.
Achava que morreria cedo, que nunca conseguiria entrar na tropa porque não era robusto o suficiente. Com 18 anos devia pesar 42 quilos, era só ossos e tudo me magoava, tinha sete ou oito gripes terríveis por ano, caía de cama constantemente. Acabei o liceu era um aluno imberbe e não sabia nada, não tinha gostado nada do liceu. A minha vida só começou a fazer sentido mais tarde.
Na universidade quis namorar com uma cachopa que me dizia que só namoraria comigo pelo meu lado interior, porque eu era tão feio. E ela também era feia e eu não tinha coragem de dizer. Hoje se a apanhasse... Eu só me candidatei porque achei que ela era tão estrupício quanto eu e estaria à altura. Esta não me vai dizer não porque, coitada.
Obviamente tinha de esperar muito tempo para construir uma autoestima qualquer e sobretudo para me curar. É preciso muitos livros para me curar. Ao Lobo Antunes, que eu saiba, nunca lhe faltaram umas cachopas. Era lindo, teve mulheres lindíssimas. Sempre cobicei muito a beleza.