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LER

Livros. Notícias. Rumores. Apontamentos.

O Terceiro Reich

Pouco passava da meia-noite quando a primeira tradução mundial do novo romance póstumo de Roberto Bolaño foi lançada no bar mais perto do hotel onde estão os participantes das Correntes d'Escritas. A música, garante quem participou na festa, teve os seus momentos idiossincráticos (chamemos-lhe assim).

Lost in translation

A tradutora e blogger brasileira Denise Bottmann está a ser processada pela editora Landmark por ter denunciado que a tradução de Persuasão, de Jane Austen, com a assinatura de Fábio Cyrino, é praticamente «um xerox de uma antiga – e fraca – tradução portuguesa da lavra de Isabel Sequeira, até em seus numerosos erros». Toda a história aqui.

Prémio Literário Casino da Póvoa para Maria Velho da Costa

O júri constituído por Carlos Vaz Marques, Dulce Maria Cardoso, Fernando J. B. Martinho, Patrícia Reis e Vergílio Alberto Vieira decidiram, por maioria, atribuir à autora de Myra (Assírio & Alvim, 2008) a 7.ª edição do Prémio Literário Casino da Póvoa, anunciado hoje na abertura do Correntes d' Escritas.

 

Na cena de abertura deste romance, Myra encontra Rambo, um cão de combate ferido, numa praia atravessada por «carris desconjuntados», «chorões apodrecidos» e marcas das «marés vivas sujas de crude». O narrador assinala: «O céu estava baixo e muito escuro.» É uma caracterização meteorológica, claro, mas também metafórica. Durante o resto da narrativa – embora aqui e ali se assista a uma aberta – o horizonte das personagens permanecerá igual ao céu da primeira página: opressivo, de um violento negrume, sempre à beira da tempestade devastadora.
Myra é uma rapariga russa que deambula pelas paisagens tristes do Portugal contemporâneo, em fuga rumo ao Sul, mas com esperanças de voltar ao Leste de onde emigrou. Durante a longa jornada iniciática, sempre com o Pitbull Terrier por perto, ela revela um extraordinário instinto de sobrevivência, feito de «manha e força». Conforme as circunstâncias, ora cita Camões, ora fala como a lerdinha que não é. E assim vai avançando por entre «criaturas íngremes», através dos vários círculos do Mal, num mundo cheio de «dor e dano».
A primeira parte do romance é composta por uma sucessão de encontros on the road: com um camionista alemão, amante de uma pintora desbocada que faz lembrar Paula Rego; com um padre, heterodoxo ao ponto de dizer que «a castidade é porca» (enquanto transporta na sua carrinha uma mulher a morrer de SIDA); com um marinheiro cego e maneta chamado Alonso (como o herói do Quixote); entre outras personagens menores. Isto até descobrir Orlando/Rolando, um «rapaz pardo» que lhe aparece todo vestido de branco junto a um Land Rover também branco, «parado como um dócil corcel expectante». A partir daqui, a história como que estaca na esfera deste cabo-verdiano, a quem Myra se entrega num idílio amoroso, cortado cerce por uma cena de carjacking que precipita de vez a acção no mais sórdido sub-mundo do crime.
De certa forma, Maria Velho da Costa escolheu ficar com um pé no romance de aventuras picarescas do séc. XVIII e outro na exploração pós-moderna das possibilidades da linguagem. O seu principal mérito está justamente na forma como gere esta dicotomia, por um lado explorando e sabotando as regras romanescas clássicas, por outro abrindo o seu livro a vários idiomas (o inglês, o francês, o russo, o alemão, o italiano, o crioulo; além do português em muitos registos: do mais elevado ao calão e aos regionalismos), bem como à simples celebração da literatura, escondida em diversos envios e homenagens a outros escritores, como Herberto Helder, Manuel Gusmão, Jorge de Sena, Adília Lopes ou Helder Macedo.

[Texto de José Mário Silva publicado na revista LER nº 76]

Dez regras para escrever ficção (ao cuidado de eventuais interessados)

 

Segundo Elmore Leonard, Diana Athill, Margaret Atwood, Roddy Doyle, Geoff Dyer, Anne Enright, Jonathan Franzen, Esther Freud, Neil Gaiman, Richard Ford, entre outros escritores. Está tudo aqui.

 

As dez regras de Richard Ford

Marry somebody you love and who thinks you being a writer's a good idea.

2 Don't have children.

3 Don't read your reviews.

4 Don't write reviews. (Your judgment's always tainted.)

5 Don't have arguments with your wife in the morning, or late at night.

6 Don't drink and write at the same time.

7 Don't write letters to the editor. (No one cares.)

8 Don't wish ill on your colleagues.

9 Try to think of others' good luck as encouragement to yourself.

10 Don't take any shit if you can ­possibly help it.

«Editorial Dias Contados»

«El conjunto es de una rara intensidad conmovida y parece próximo a grandes libros sobre ciudades, como Lisboa, de Cardoso Pires, o La forme d'une ville, de Julien Gracq. Al investigar dónde encontrar más obras del sabio turinés, he tropezado en las imágenes de Google con un Ceronetti que no me esperaba del todo: una mezcla de loco y de genio medieval. He decidido seguir leyéndolo, o investigándolo. Nacido en el 27, es poeta, filósofo, traductor, eterno articulista de La Stampa, dramaturgo, filólogo, marionetista.»

Enrique Vila-Matas, sobre o livro Pequeño infierno turinés, de Guido Ceronetti. Crónica publicada hoje no El País.

8 lições literárias na Primavera

Um curso livre de estudos avançados de Literatura, dividido em 8 sessões duplas, de Abril a Junho, é a primeira iniciativa pública do Laboratório de Estudos Literários Avançados, projectado por Abel Barros Baptista, Ana Paiva Morais, Fernando Cabral Martins e Gustavo Rubim, em fase de instalação na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Programa completo e outras informações aqui.

«A escola deveria ensinar os alunos a amar a literatura»

«Quando nós professores não sabemos muito bem como fazer para despertar o interesse dos alunos pela literatura, recorremos a um método mecânico, que consiste em resumir o que foi elaborado por críticos e teóricos. É mais fácil fazer isso do que exigir a leitura dos livros, que possibilitaria uma compreensão própria das obras. Eu deploro essa atitude de ensinar teoria em vez de ir diretamente aos romances, por que penso que para amar a literatura - e acredito que a escola deveria ensinar os alunos a amar a literatura - o professor deve mostrar aos alunos a que ponto os livros podem ser esclarecedores para eles próprios, ajudando-os a compreender o mundo em que vivem.» Tzvetan Todorov, em entrevista à revista Bravo!.

[Via Autores e Livros]

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