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LER

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Colóquio sobre Machado de Assis

No dia em que se cumprem cem anos sobre a morte de Machado de Assis (29 de Setembro) começa na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, um cóloquio internacional sobre o autor de Dom Casmurro. Abel Barros Baptista, especialista em literatura brasileira, e o poeta e ensaísta Helder Macedo são alguns dos oradores convidados.

 

Nesse mesmo dia, a Casa Fernando Pessoa organiza uma maratona de oito horas de leitura de Memórias Póstumas de Brás Cubas. Iniciativa aberta ao público.

Crónica de Abel Barros Baptista

 

                                                         CÓLICA VERBAL

O desânimo incurável caracteriza uma casta de escribas. Distraem-se, e a gente apanha-os a dizer que vão deixar de escrever porque ninguém os lê. Eu próprio já me distraí assim várias vezes. Os blogues incrementaram o número de rebentos desta casta, dando-lhes meio fácil de escrever e de deixar de escrever, ou melhor, de publicar e de deixar de publicar — ou ainda melhor: de dizer que vão deixar de publicar, anunciando ao mundo que hoje, amanhã o mais tardar, já ali não estão, porque, enfim, já vêem, a minha vida não é isto, don't quit your day Job, etc. Patético, caraças! Mas inocente. Como aliás tudo o que gesticula a pedir não mais do que pouquinha atenção. Somos a casta inocente, e além disso benéfica, perdão, benigna. A pior, verdadeiramente maligna, é a dos que deixam transparecer em cada linha a noção engastada de que certo número de pessoas, de todo indeterminadas (como convém ao público), anseiam pelo que escrevem. E então chegam-se à frente a fazer habilidades. Um tédio. Podia alinhar vários exemplos sem necessidade de consultar apontamentos. Limito-me a dizer que os blogues incrementaram muitíssimo os rebentos desta outra casta. Não anunciam que fecham amanhã; quando muito encerram este modesto blogue e abrem aquele, mais modesto mas novo. A mostrar versatilidade. Fica bem a versatilidade. Fulano é muito versátil, diz-se. E Fulano, vaidoso... Fulana é muito versátil, e a coisa azeda, porque o feminino vai menos bem com certas qualificações. Raia a brejeirice, quando não entra na grosseria. Curiosamente, porém, há muitos exemplos de mulheres nascidas para o público nesta segunda casta. Não sei se lhes posso chamar publicistas. Era o nome que em tempos se dava a quem vivia de publicar. O publicista, a publicista — tal como o artista, a artista. Homem ou mulher, serve para os dois. Chama-se aliás isso mesmo, «substantivo uniforme comum de dois». Diferente do «substantivo uniforme epiceno», um só género para designar macho e fêmea de animais (o porco-espinho, o golfinho, a girafa), e diferente do «substantivo uniforme sobrecomum», um só género para designar pessoas: o algoz é sempre masculino, mas a testemunha é sempre feminina. Vítima também é sempre nome feminino, e aliás fica peculiar frase como: «A vítima é um homem de quarenta anos, que a mulher abateu a tiro enquanto dormia.» Não se sabe quem dormia, se a vítima se a mulher, mas sabe-se que são ambos femininos, e cônjuges, nisso portanto masculinos. Coisa levada dos diabos, o género gramatical. Chega a ofender. Ainda há dias descobri que, nos Estados Unidos, certo Department of Labor estabeleceu o uso oficial de algumas palavras para designar profissões e postos associados: por exemplo, em vez de fireman estipula firefighter, e police officer em vez de policeman. Coisa oficial. Até sem ser oficial, porque já se diz businessperson em vez de businessman. Estranho que não escolhessem businesswomen para as mulheres de negócios. Donde a preferência pelo neutro? Também temos a palavra «pessoa» em português e não andamos por aí a usá-la para designar o que tanto pode ser homem como mulher. Preferimos até o plural — concedo que muitíssimo neutro, aliás sempre feminino (contra-senso do raio!) —, e dizemos as pessoas, mulheres e homens, crianças e idosos… bom, crianças talvez não, e idosos é sucedâneo para velhos, velhotes, velhadas, e assim. Palavras neutras eliminam a ofensa e o insulto? Ajudam a restringir a discriminação, a desvalorização, o desprezo, a grosseria…? Pode ser. É aliás indispensável que seja, as palavras classificam e ferem, estruturam e ofendem, e animam, impulsionam, etc. Ser discriminado é sempre essencialmente ser chamado isto ou aquilo. Resta saber se a opção pelo neutro por sua vez neutraliza a discriminação. O que é pior: resta saber se há palavras neutras. «Trata-se de pessoa idosa de escassos recursos intelectuais» fica mais inócuo do que «O raio da velha é estúpida como o caraças». Mas não há ali qualquer coisa de excessivamente delicado que lhe dá efeito e encanto? A outra também tem efeito, e vá lá, em certos meios, acham-lhe decerto encanto. Encanto específico, enfim, cada uma no seu modo, cada uma no seu momento, sem que se interpenetrem. Interpenetrar é, por outro lado, verbo que convinha não usar a propósito da diferença entre feminino e masculino. De resto, o sentido da conveniência é por definição incompatível com a linguagem. Por definição, ouviram?

 

Crónica publicada na edição de Setembro da LER.

Prémios Máxima 2008

Realizou-se hoje a última reunião do júri dos Prémios Máxima para 2008.

 

Prémio Máxima Especial do Júri : Irene Flunser Pimentel, História da Pide (Círculo de Leitores/Temas e Debates).

 

 

Prémio Máxima de Literatura : Teolinda Gersão, A Mulher que Prendeu a Chuva (Sextante Editora)

 

Prémio Máxima de Literatura/Revelação: Teresa Font, Foi Assim que Aconteceu (Editorial Presença)

Porto Editora recusa editar obra polémica de Sherry Jones

Manuel Alberto Valente, director da Divisão Editorial Literária de Lisboa (DEL-L), da Porto Editora, recusou a publicação de The Jewel Of Medina, livro polémico de Sherry Jones - história de Aisha, desde o seu casamento com Maomé, aos seis anos, até à morte do profeta - que a Random House desistiu há poucos meses de publicar nos Estados Unidos. Segundo o comunicado de imprensa da editora portuguesa, «a decisão foi tomada com base no parecer extremamente desfavorável redigido por um dos consultores», que considerou o romance «vulgar, pobremente escrito e pouco convincente nas suas personagens e enredo». Para Manuel Alberto Valente, esta é uma «decisão de particular relevância, pois tínhamos possibilidade de lançar um livro com um enorme potencial comercial. Acabou por pesar o critério fundamental, o da qualidade literária».