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Conselho de João Pereira Coutinho: traduzam estes cinco livros

Cultural Amnesia: Notes in the Margin of My Time
Clive James, Picador

Será possível que um personagem televisivo aparentemente «ligeiro» seja um dos maiores ensaístas vivos? É possível, sim: Clive James, em Cultural Amnesia, organiza alfabeticamente uma centena de retratos literários, de Akhmatova (Anna) a Zweig (Stefan), passando pelo nosso Saramago (José). Aliás, o ensaio dedicado a Saramago resume bem a genialidade de Clive James: uma mistura de erudição e sentido crítico, com toques de crueldade sarcástica.

Artists in Exile: How Refugees from Twentieth-Century War and Revolution Transformed the American Performing Arts
Joseph Horowitz, Harper
Nas discussões da praxe, acusa-se a «cultura americana» de desempenhar um papel opressivo/imperialista/globalizador (riscar o que não interessa) sobre culturas alheias. A conversa tende a esquecer dois pormenores: primeiro, não existe «cultura» americana, em bloco homogéneo; existem «culturas» no interior de um mesmo espaço geográfico; e, em segundo lugar, o que passa por «cultura americana» é, na verdade, o contributo de artistas de procedências várias (Balanchine, Aronson, Lang, Nabokov) que encontraram na América, e sobretudo no tenebroso século XX, um porto de abrigo.


The Rest is Noise: Listening to the Twentieth Century

Alex Ross, Farrar, Straus and Giroux

Finalmente, uma história da música no século XX, escrita pelo brilhante crítico da New Yorker, que faz justiça a certos nomes injustamente ignorados, ou até ridicularizados, como Sibelius ou Samuel Britten. Ou a prova definitiva de que é possível escrever sobre a mais intangível das artes com carnadura histórica e clareza estilística.

The Book Against God
James Wood, Jonathan Cape

Como sobreviver à perda num mundo onde a possibilidade de Deus nos está interdita? A resposta a esta inquietação metafísica está neste primeiro romance de James Wood, primus inter pares da crítica highbrow e novelista promissor.

The Politics of Faith and the Politics of Scepticism
Michael Oakeshott, Yale

Pessoalmente, nenhum outro filósofo me impressionou ou influenciou tanto como Michael Oakeshott, quer pela forma, quer pelo conteúdo. E apesar de existirem obras mais filosoficamente significativas deste autor (como On Human Conduct, por exemplo), a verdade é que este The Politics of Faith..., descoberto e publicado postumamente, é a melhor introdução ao pensamento do autor: uma investigação sobre os dois pólos ideais em que parece oscilar a actividade política na época moderna, investigação que deve ser prévia à questão fulcral: «O que deve o poder político fazer?»

 

Texto publicado na edição de Setembro da LER (fotografia de Jordi Burch).

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