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Um poema de Inês Fonseca Santos

Wedding march

Felix Mendelssohn

 

A infelicidade engorda mais

do que vinte tabletes

de chocolate Regina.

Mesmo partida aos quadrados

e embrulhada em prata

para disfarçar,

tem mais calorias. É um veneno,

a infelicidade. Matou uns quantos 

pelo caminho e mesmo assim

tem prosseguido ao longo dos séculos

engolindo sulcos de tempo e

lamelas de comprimidos. 

 

Infelicidade, por seres minha, 

tenho-te algum respeito.

Gostava de mandar-te para. Mas

é tão longe que, temo, 

sentir-me-ia sem ti só

e, pior, infeliz. 

 

Sigo. 

De braço dado contigo.

Primeiro, pelo adro fora. 

Depois, pelo jardim fora. 

Qual paraíso. 

Não, isso não chega: sigo contigo

pelo universo; cubro

chineses, paquistaneses, neozelandeses

com o teu manto diáfano

de choro. 

E é sempre contigo,

minha puta, que partilho

a bandeja das recordações;

é sempre contigo, minha puta fiel,

que digo, num sorriso minúsculo e muito tímido:

hoje o lanche é chocolates.

Come chocolates, pequena. 

 

Porque, sabes?, 

querer ser feliz não é pecado. Mas

infelizmente já passou o prazo. 

 

Inês Fonseca Santos, in Mixtape, ed. Do Lado Esquerdo