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LER

Livros. Notícias. Rumores. Apontamentos.

Entrevista: Teresa Calçada

 

 © Fotografia de Pedro Loureiro

 

Deixou o trabalho do dia a dia ou, como ela diz, deixou de ter patrão, mas a ideia de fazer leitores não ficou para trás. Por isso é Voluntária de Leitura, e precisamente na escola onde aprendeu a ler e a escrever. A fabulosa energia de Teresa Calçada, a curiosidade extrema e o prazer de pensar numa conversa que podia nunca mais acabar.

 

Entrevista de Ana Sousa Dias

 

Como faz essas leituras? Leva livros de casa? 

Umas vezes levo os meus livros de miúda, algumas histórias de que gostei, ou que eu tenho ainda presente o sentimento de as ter lido. Livros que aparecem, que me apetece levar, ou livros da biblioteca da escola. Levei várias vezes a escolas o meu primeiro dicionário, que o meu pai que me deu quando eu andava na primária e até tem a dedicatória dele. Um livro que ele achava que devíamos ter. Isso pode ser pretexto para representar à miudagem o valor dos dicionários. Ele também me deu “Os Lusíadas” e claro que não vou levar este livro para alunos do 2.º ano, mas quando penso nisso ocorre-me levar “Os Lusíadas para gente nova” do Vasco Graça Moura, um livro ótimo como só um grande conhecedor de Camões pode fazer. Enfim, são pretextos sobre pretextos.

É um mundo infindável?

Sim, e podemos abordá-lo de várias maneiras. Basta ter um pretexto, depois os miúdos interessam-se. A promoção da leitura não tem de ser sempre com literatura de ficção, alguns miúdos gostam mais de ciência ou de outro tema. Uma vez fui a uma sessão da Fábrica da Ciência [de Aveiro] que é estupenda em matéria de trabalho com os miúdos. A Rede de Bibliotecas Escolares tem uma experiência fantástica com eles, têm até uma parceria.

Aquilo ocorria num hotel e era um pequeno-almoço. Eles comiam o que queriam e falávamos de livros. Eu levava um conjunto de livros, de ciência, de ficção, de filosofia. Gosto muito de falar de filosofia para crianças, é um tema que cria muitas empatias. Gerou-se uma conversa com os miúdos, e via-se os interesses deles, comparava-se, uma discussão à volta de livros com canalha miúda, no meio de um pequeno-almoço importantíssimo, imagine-se, num hotel. Na conversa, percebemos quais são os temas que os interessam mais. Muitas crianças trazem um currículo oculto mais vasto que outras, por razões de família. O currículo oculto é muito importante, é por isso que a escola e as bibliotecas têm um papel nessa inclusão.

Como se revela esse currículo oculto?

Tenho a experiência de voluntária de leitura numa biblioteca de aldeia e basta conhecer a a história dos miúdos, das famílias, da própria aldeia, olho para eles e sei que vocabulário trazem. É um ecossistema. E o léxico de cada um faz a diferença na capacidade de leitor. Não é nenhum anátema, a escola pode bem, e deve, ultrapassar isso. É um grande desafio para a escola e para as bibliotecas. É na prática com as palavras, a brincar com elas, a saber usá-las, que percebemos as nuances. Podemos usar a literatura científica ou artística ou do desporto – por que não? Há miúdos que tendem para uma literatura e outros para outra. Eles trazem preferências muitas vezes marcadas pelos gostos dos pais, uns gostam de carros ou de motos, porque o pai tem, por exemplo, ou de surf, porque o pai faz. Mas é possível fazê-los ganhar outra lógica de interesses.

 

[Entrevista na LER de Março]

Viver da escrita é um luxo. Um inquérito.

 

 

Menos de 700 euros por ano. É o que recebe um pouco mais de metade dos ­es­cri­tores editados do Reino Unido. Resultado de um inquérito da Digital Book World.

 

Um inquérito realizado no Reino Unido a mais de nove mil escritores revelou que 54 por cento dos que estão ligados a editoras ganham menos de 600 libras esterlinas (730 euros) por ano, um número que sobe para os 80 por cento no caso de escritores independentes ou autopublicados. Esta quantia astronómica dá, entre outras coisas, para pagar um mês e meio de renda de um apartamento modesto em Lisboa, 180 maços de tabaco ou 1123 cafés, embora dê, acima de tudo, muito que pensar. Afinal, se a maior parte dos escritores nem sequer ganha para pagar as despesas o que é que os motiva no negócio da escrita? Será o sonho de um dia chegarem ao patamar absurdo de rendimentos dos escritores mais populares? A glória social de se apresentarem como escritores? A vaidade da obra impressa mostrada a familiares e amigos? A cada um as suas razões, mas o que é evi­dente é que quem se aventura no negócio da ­escrita não vê a escrita como um negócio. O diretor editorial da empresa que realizou o inquérito, a Digital Book World, acredita que as pessoas escrevem «porque querem partilhar alguma coisa com o mundo ou obter alguma espécie de reconhecimento» e que, apesar de estarem interessadas no sucesso comercial dos seus livros, para elas o dinheiro não é a prin­cipal motivação. Nem podia ser, como se vê pelas quantias ridículas que a maioria ganha. Viver da escrita, até num mercado como o inglês, é um luxo. Mas viver para a escrita é uma missão que muitos aceitam alegremente. Se o mundo ganha alguma coisa com tanta generosidade e sacrifício, é outra questão. Bruno Vieira Amaral

Qual Panteão? Deixem Eusébio.

Sugestão em duas linhas: deixem Eusébio sossegado no lugar onde sempre estará – na memória dos seus admiradores.

 

Amália e Eusébio foram os dois maiores heróis populares do século XX português. Houve outros – atores, can­tores, desportistas – mas nenhum atingiu a fama e o reconhecimento internacional comparáveis aos dos dois. Por mo­tivos insondáveis, os deputados da nação decidiram que o lugar do repouso eterno de Amália deveria ser junto de outras figuras luminosas como Manuel Arriaga, João de Deus e Teófilo Braga, aos quais nem o facto de os restos mortais se encontrarem protocolarmente depositados no Panteão salva da indiferença generalizada dos seus compatriotas. Agora, ainda transidos pela morte do grande futebolista, os deputados já decidiram que, com a brevidade que a lei e os costumes permitam, o corpo de Eusébio deverá ser encaminhado para esse lugar lúgubre onde tristemente se celebram os equivalentes modernos dos deuses do edifício mandado construir por Marco Agripa. Eu nunca estive no Panteão, mas estou certo de que, ­pagos os três euros do bilhete com direito a visita guiada, qualquer português sairá desse mausoléu secular reconciliado com a nação que o pariu e a ensaiar os versos cantados por Amália ou a escrever a sua própria cartilha maternal. Também não quero contrariar a generalidade dos portugueses que, a esta hora, já estão a subscrever inúmeras petições on­line para que o corpo de Eusébio seja trasladado – ou, se preferirem, transladado – para qualquer sítio ou, quem sabe, criogenizado para que, num futuro longínquo, a ciência o possa ressuscitar e devolvê-lo ao convívio dos homens que, na altura, estiverem a representar o País na Assembleia da República. No entanto, atrevo-me a sugerir que deixem Eusébio sossegado no lugar onde sempre estará: na memória dos seus admiradores. Bruno Vieira Amaral

 

A arte da antecipação

 

A Amazon de Jeff Bezos está a preparar-se para enviar encomendas aos seus clientes ainda antes de eles as fazerem. Confuso? Leia as instruções. 

 

Da Amazon, o gigante mundial da distribuição, já se espera tudo. Há uns meses, foi anunciado o proje­to de usar, num futuro próximo, drones para fazer entregas em qualquer ponto dos EUA num intervalo inferior a 30 minutos. Escolhe-se o que se quiser no site e meia hora depois um veículo voador do tamanho de um helicóptero telecomandado pousa no quintal das traseiras com a encomenda. Impressionante, sim, mas o engenhoso e insaciável Jeff Bezos não se fica por aqui em termos de arrojo tecnológico. Na ânsia de ser sempre mais rápida do que a concorrência, a Amazon está a preparar-se para enviar encomendas aos seus clientes ainda antes de eles as fazerem. Exato: é como se lhes adivinhassem os pensamentos e as intenções. Valendo-se das quantidades incalculáveis de informação armazenada sobre hábitos de consumo (das compras feitas no passado às wish lists, passando pelo tempo que o cursor permanece a pairar em cima de um determinado item), um sistema informático calculará que produtos terão uma probabilidade elevada de serem ­encomendados e acionará o respetivo «envio antecipado». Assim, quando o cliente clicar por fim no botão de compra, o produto já estará em trânsito, ou em espera num armazém mais próximo da morada de destino. Levada às últimas consequências, a ideia acabará por descartar a própria vontade do consumidor, esse obstáculo final à absoluta fluidez do sistema. Chegará o dia em que a Amazon anunciará o algoritmo capaz de definir – sem que tenhamos voto na matéria – o que na verdade cada um de nós precisa de ler, ver ou ouvir. José Mário Silva

Revelações de Mário Cláudio

«Neste momento, aqui no Porto não existe vida literária. Há uma espécie de grémio literário muito mais forte em Lisboa. Lá andam muito acavalados uns nos outros. Mas a verdade é que o clima que se respira entre eles é pouco saudável. O ar é muito poluído.»

 

«Digo frontalmente: António Lobo Antunes é que devia ter ganho o Nobel. Há pessoas que vão ficar zangadas comigo, mas eu assumo. Agora, a escrita dele é muito mais fácil de imitar do que a do José Saramago.»

 

«Como figura de ficção, Tiago Veiga tem de ser respeitado por razões de afecto. Explico-lhe porquê: uma das maiores deceções que tive foi quando os meus pais me disseram que o Pai Natal não existia. Estava farto de saber mas não queria confrontar essa verdade. Fiquei completamente devastado. Não quero devastar ninguém.»


No mês de todos os regressos, a LER publica uma grande entrevista a Mário Cláudio, autor de Tiago Veiga - Um Romance. Dia 1 de Setembro nas bancas, com outros exclusivos e polémicas, revelados aqui nos próximos dias.

A morte da Teorema

«A 3 de Dezembro de 2010, a Teorema, para mim, e para outros, morreu. Uma morte por agora adiada, mas inevitável.»

Carlos da Veiga Ferreira, em entrevista exclusiva à LER, a poucos meses de lançar os dois primeiros livros da Teodolito: Perder Teorias, de Enrique Vila-Matas, e Os Dias do Arco-íris, de Antonio Skármeta. Sábado nas bancas.

Julho na LER

Por agora, podemos dizer que Rogério Casanova estudou estratégia para sobreviver numa praia portuguesa, Irvine Welsh decidiu escrever sobre José Mourinho, o cientista João Magueijo entregou-se à biografia de um cientista tão genial como Einstein, o vocalista dos Moonspell pegou fogo no nosso sofá e sete colaboradores da LER escolheram uma lista de 24 livros à prova de qualquer desculpa para não ler nas férias. Na verdade, há muitos mais na edição de Julho, obviamente, mas nem tudo se revela à primeira — como a próxima capa.

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[...] Sente-se marginalizado ou injustiçado? 

Várias vezes. Mas injustiça maior é ainda não me terem atribuído o Prémio Camões, e já o merecia há muito tempo. Aliás, isso foi-me dito pelo Prof. Carlos Reis. E o Fernando Dacosta disse-me que num ano tinha existido má vontade contra mim.

Como explica essa má vontade?

Por ser comunista.

[Urbano Tavares Rodrigues, entrevistado por Carlos Câmara Leme]

 

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ARTURO PÉREZ-REVERTE O CORSÁRIO ARISTOCRATA

O Assédio compila todas as marcas do imaginário do escritor espanhol que garante que a mulher é o único herói interessante do século XXI. Um homem que gosta de regras, escreve romances à moda antiga para fazer frente a um mundo cada vez mais desregrado e ameaçado pelo caos e vive com o passado colado à pele. «Nunca regressei da guerra. Por vezes, quando leio Lobo Antunes sinto que também ele não regressou. Comportamo-nos como gente normal, mas sabemos que não somos.»

 

CORMAC McCARTHY ENCONTRO COM O MESTRE

A viagem de Paulo Faria pelo Texas e Novo México terminou como devia. Ao fim de anos de troca de correspondência, o tradutor português conseguia finalmente encontrar-se com o escritor a quem chama «Mestre»: Cormac McCarthy. Relato de uma peregrinação apaixonada.

 

MANUEL ANTÓNIO PINA CAMÕES INESPERADO

«É a coisa mais inesperada que poderia esperar.» Se Manuel António Pina se surpreende pela distinção com o Prémio Camões, tal não acontece a quem acompanha a sua obra de perto, como Osvaldo Manuel Silvestre. Um texto indispensável para perceber toda a dimensão de um grande poeta.

 

URBANO TAVARES RODRIGUES «NÃO PENSO VOLTAR A ESCREVER UM ROMANCE»

Aos 87 anos, o decano da literatura portuguesa publica o seu 45º título de ficção, Os Terraços de Junho - Contos e Sonhos. «Não penso voltar a escrever mais algum romance porque tenho receio de não o acabar, de morrer antes. Essa é a razão mais próxima de optar pelo conto.»

 

EMIL ZATOPEK A LENDA SOBREVIVE

Um dos últimos mitos do atletismo mundial podia ter acabado a sua vida a recolher lixo nas ruas de Praga. Ainda assim, aclamaram-no sempre como herói. Correr foi a sua história. Correr é hoje a biografia de um desportista fabuloso.

 

E ainda: Manuel Hermínio Monteiro, Vitorino Magalhães Godinho, Dinis Machado - entre dezenas de livros, crónicas, breves, listas, histórias & apontamentos e outros manifestos.

 

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Encontros únicos na LER

Após anos de troca de correspondência e oito laboriosas traduções dos romances de Cormac McCarthy, Paulo Faria conseguiu realizar um dos seus sonhos: encontrar-se com o autor de Meridiano de Sangue em Santa Fé, no Novo México. Um relato exclusivo na edição de Junho da LER, brevemente nas bancas. Fotografia de Peter Josyph.

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«Vejo os perigosos meios literários portugueses com menos encantamento. Enjoam-me um bocado, se quer que lhe diga.»

[Pedro Tamen, entrevistado por Carlos Vaz Marques]


PEDRO TAMEN FORMADO EM DIREITO E SOLIDÃO
Chamaram-lhe em tempos «poeta barroco» e ele ri-se. Gosta de dizer que escreve no escuro. É esse o tema do livro que acaba de publicar. Um Teatro às Escuras (Dom Quixote) é a encenação poética da incapacidade intransponível de nos entendermos sem equívocos. A vida é um palco de sombras.

KARL P. EFFIELD O PRÉ-HETERÓNIMO DESCONHECIDO
«The Miner’s Song» não só é o primeiro poema em inglês publicado por Fernando Pessoa, como também o primeiro publicado com outro nome, facto até hoje desconhecido. Karl P. Effield nasce, num caderno de adolescência do poeta, como autor de From Hong Kong to Kudat. Uma vertiginosa história pré-heteromínica com epicentro em Durban.

ALBERTO MANGUEL DEUS, DANTE E O CÃO
Por entre as 30 mil obras da sua biblioteca em Poitou-Charentes, o escritor canadiano nascido argentino escolhe de novo A Divina Comédia para regressar à LER com este ensaio exclusivo, onde o «poema universal» ganha protagonistas inesperados.

MICROCONTOS 34 CIGARROS
Se ainda não há unanimidade quanto à definição do género, restam poucas dúvidas sobre o nome da «imperatriz» do nanominimicroconto: Lydia Davis, ex-mulher de Paul Auster e autora de Break it Down – Demolição, um dos seus maços literários mais célebres, onde o tamanho não interessa e o tempo é medido a partir do momento em que o isqueiro se acende.

JOGO SORTE OU DESGRAÇA LITERÁRIA
Para distrair o leitor do tédio e da crise, criámos um jogo sem paralelo no mercado português (é verdade que sem tabuleiro, dados ou peões, ainda assim com direito a dupla página). Não há regras – é sempre em frente –, mas há que ter cuidado com as armadilhas. Algumas com peso.

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«Um dos fenómenos que explica a ausência de revolta e do respectivo grito é que os papás estão a aguentar. Se há agora uma geração precarizada ela está a pagar, de certa maneira, o preço do apaparicamento que a geração dos papás – inclusive a minha – teve. Houve realmente oportunidades que nunca ninguém tinha tido em Portugal e provavelmente não vai voltar a ter tão cedo.»

[Manuel Villaverde Cabral, entrevistado por Carlos Vaz Marques]


 

MANUEL VILLAVERDE CABRAL DISCURSO ALTERNATIVO
Sociólogo, historiador e cientista político, dedica-se há décadas ao estudo da sociedade portuguesa. Mesmo em tempo de crise, falta um discurso credível alternativo ao statu quo vigente, diz Villaverde Cabral. Não é um lamento, é uma constatação. Porque a conclusão seguinte é a de que esse discurso global alternativo não é possível e talvez nem sequer desejável.

20 LIVROS PARA ENCARAR O ABISMO
Não há soluções milagrosas, caminhos de sentido obrigatório ou conclusões definitivas. A diversidade de pensamento de Fernando Savater, Gilles Lipovetsky, Tony Judt, Robert Fisk, George Steiner, Eduardo Lourenço, Slavoj Zizek ou Peter Sloterdijk oferece várias propostas para enfrentar a encruzilhada. Esta e outras.

BARACK OBAMA RETRATO DO ANTICRISTO ENQUANTO JOVEM
Nunca a fé em Obama esteve tão em crise. Dois anos após a tomada de posse do 44º presidente dos Estados Unidos, o que podemos ainda esperar do homem que um dia quis ser escritor e cuja biografia mais completa é assinada por David Remnick, editor da New Yorker? «A tendência instintiva de Obama para o compromisso diluído criou um vazio simbólico», conclui Rogério Casanova.

JOHN M. KEYNES O MESTRE E A DONA DE CASA
Setenta anos depois, as teses do famoso economista inglês regressam ao debate político. Ponto de partida para uma discussão em aberto com três novas edições.

DICIONÁRIO PARA QUEM QUER SAIR DA CRISE
O tempo não está para brincadeiras. Em 45 entradas (um pouco mais) a salvação possível num mosaico composto por Gisele Bündchen, OuLiPo, surtos de violinistas, reparação de torneiras, ginastas de leste, legiões de pombos, petróleo na costa algarvia ou o canal de televisão de Medina Carreira.


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GONÇALO M. TAVARES

«Acho que todos os meus livros têm esse outro mundo, que me é natural: o mundo do humor e da ironia. Como se as palavras fossem coisas materiais e nós pudéssemos ver as costas das palavras, a parte de baixo das palavras; como se pudéssemos levantar a saia das palavras. Instintivamente, quando recebo uma frase, quando ouço uma frase, é como se me movimentasse em redor dessa frase. Isso é-me muito natural.»

 

OS LIVROS QUE NÃO DEVEMOS ESQUECER

Escolha é escolha – e nós fizémos a nossa, com a ajuda de José Mário Silva, Dóris Graça Dias, Sara Figueiredo Costa, Filipa Melo, José Riço Direitinho, José Guardado Moreira, Rogério Casanova e Bruno Vieira Amaral. Escolhemos 25 livros, entre centenas que passaram pelas páginas da LER até Novembro. Podiam ser mais, a começar, desde logo, pelos destaques desta edição, onde escrevemos sobre os novos livros de Gonçalo M. Tavares, a poesia de Armando Silva Carvalho ou os regressos de Knut Hamsun e Roberto Bolaño.

 

EGAS MONIZ O CIENTISTA IMPROVÁVEL

«O lugar na história que Egas Moniz procurou com tanta persistência e perícia é seu e de pleno direito. Tudo nasceu na mente de um clínico pragmático e impaciente quanto às limitações da sua arte, que, simplesmente, decidiu deitar mãos à obra. A perseverança e a ambição fizeram o resto», escreve o neurocientista João Lobo Antunes na biografia do Prémio Nobel da Medicina. Pré-publicação exclusiva.

 

JOÃO BARRENTO ATENTO AOS PIRILAMPOS

Ensaio, literatura, crítica, poesia, o mundo contemporâneo e os seus «pirilampos» - matéria-prima para uma conversa com o ensaísta que ainda consegue ver luz ao fundo do túnel. «Ao contrário das visões pessimistas que têm aparecido, penso que há imensos focos de vida cultural intensa e interessantíssima». Tem novo livro publicado: O Género Intranquilo – Anatomia do Ensaio e do Fragmento (Assírio & Alvim).

 

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ANTÓNIO DAMÁSIO OS CIENTISTAS DEVIAM SER TAMBÉM PENSADORES

Com O Livro da Consciência (Círculo de Leitores/Temas e Debates), o mais conceituado neurocientista português vem mais uma vez desassossegar as nossas percepções sobre aquilo que faz de nós, humanos, por vezes demasiado humanos. António Damásio confessa ainda as suas tentações literárias e admite que um dia poderá publicar os textos que guarda na gaveta.

 

O CÉREBRO LITERÁRIO A SÍNTESE POSSÍVEL

Habituado ao consultório literário, Rogério Casanova avança para a explicação de um dos maiores mistérios humanos: o processo criativo. «O cérebro flutua num charco de fluido cefalorraquidiano, também conhecido como “álcool”. Este fluido é produzido pelos plexos coróideos, e flui pelo cérebro dentro dos “ventrículos de Hemingway”, guiados por um forte sentido de desmasculinização e contingência cultural.»

 

TONY JUDT CRISE COM HISTÓRIA

Poucas semanas antes de morrer, o historiador britânico publicou Um Tratado sobre os Nossos Actuais Descontentamentos, que as Edições 70 lançam agora em Portugal. «Nesta altura já deveríamos ter aprendido que a política continua nacional, mesmo que a economia não: a História do século XX oferece provas abundantes de que, mesmo nas democracias saudáveis, as más escolhas políticas costumam triunfar sobre cálculos económicos “racionais”.»

 

LEITORES DIGITAIS EM OITO PROPOSTAS

Não têm cheiro, mas gigas de memória. Não precisam de prateleiras – em poucos centímetros guardam centenas de ebooks. Não suportam folhas de papel, nem lombadas, mas sim «formatos», como o PDF ou o RTF. E custam entre 135 e 350 euros.

 

JOHN IRVING SEXUALIDADE COMO PROTESTO

Aos 68 anos, e com 12 romances publicados, o ex-lutador de wrestling, vencedor do National Book Award há três décadas e o autor do recente e ambicioso A Última Noite em Twisted River (Civilização) mostrou em Lisboa que continua combativo. «Escrevo sobre sexo porque gostava que a América crescesse.»

 

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LER hoje nas bancas!

Nesta edição invertemos o calendário: falamos de viagens em Setembro como poderíamos falar do calor do Verão em Dezembro ou dos amores de Outono em Março. Como um ritual de arrependimento (pelas viagens que não fizemos), a identificação de uma crise (as viagens que não pudemos fazer), um lugar de paixão (as viagens que recordamos).

JOSÉ MATTOSO - AO SABOR DA HISTÓRIA
O historiador e antigo monge beneditino encontrou refúgio numa aldeia de Aveiro, à beira-Vouga, de onde gosta «de olhar para a História com um espírito contemplativo.» Portugal, Deus, Timor, Saramago e até o programa Novas Oportunidades – uma entrevista com o profícuo autor e coordenador dos recentes Património de Origem Portuguesa no Mundo, a História da Vida Privada em Portugal e Portugal - O Sabor da Terra.

 

DIÁRIOS DE VIAGENS - NOTAS COLADAS À PÁGINA
Há 50 anos, Eduardo Lourenço tentava descortinar a alma mexicana; Paulo Faria continua a pesquisar os arquivos de Cormac McCarthy no Texas; Eduardo Salavisa, de caneta preta e aguarela, viaja por Buenos Aires, Marraquexe, Veneza e Cidade da Praia; Isabel d’Ávila Winter escreve na Austrália sobre Portugal; e Susana Moreira Marques persegue, em Zurique, o rasto de um nome mítico da literatura de viagens: Annemarie Schwarzenbach.

 

ROTEIRO DE ARTISTA - DE HOMERO A ROTH
Rogério Casanova em rota de colisão com a Grécia de Homero, a Praga de Hrabal e Kafka, a Rússia de Gogol, a Tanzânia de Hemingway, a Angola de Kapuscinsky, a Índia de Naipaul, o Sudeste Asiático de Conrad ou a Newark de Roth. Sugestões para dar meia-volta, todo o ano.


DEZANOVE LIVROS DE VIAGENS PARA LEVAR NO BOLSO

Há livros que nunca entrarão nas listas de «livros de viagem» ou de «literatura de viagens». Fazem parte da bagagem que cada um transporta - romances, histórias que atravessam cenários e mapas de lugares onde se esteve ou onde nunca se chegará.

MARIA GABRIELA LLANSOL - ESCRITA SEM FIM
Na casa que foi a de Maria Gabriela Llansol, em Sintra, o tempo não ficou suspenso após a sua morte, em 2008. O Grupo de Estudos Llansolianos prossegue aí o tratamento do imenso espólio inédito da autora de Livro de Horas. Pelo caminho, ilumina-se de novo uma obra aberta.

 

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Nas bancas a partir de hoje

 

Editorial


Agora, que passou o ruído, o que se espera da memória? Que seja como é. Infiel, fidelíssima, honesta, deturpada, o que for. Por isso era bom pensarmos que a memória dos escritores fica entregue – e bem entregue – aos seus livros. São eles o testemunho dessa passagem, por mais intensa ou marcante que tenha sido. No caso de José Saramago, certamente que o foi.
Para muitos dos seus leitores – restam os livros, o interesse renovado (ou não), a fidelidade a um título ou a outro. Tudo o mais, na vida dos escritores, está condenado a ser frágil, criticável e sujeito a escrutínio severo (político, pessoal e também literário) e inevitável. Sabe-se como são raros os consensos e como são perigosas as unanimidades. As honras nacionais, o testemunho dos seus contemporâneos, a dor expressa em público, a voracidade das repórteres de televisão que procuravam a polémica política (mas não o debate) – tudo isso desaparece quando a memória de um escritor (além do seu espólio, dos seus manuscritos) se sintetiza e se torna mais viva nas livrarias, nas bibliotecas, nas mesas de leitura. O resto não é literatura e não nos interessa.

A vida de revistas como a LER não é feita apenas de «planeamento rigoroso». Há uma parte do nosso trabalho diário que corresponde a essa exigência – e uma parte altamente improvisada. Esta edição sai com uma semana de atraso e a justificação é evidente: no passado dia 18 de Junho estava praticamente fechada, aguardando impressão. A notícia da morte de José Saramago obrigou-nos a redesenhá-la e a atrasar a sua edição.
José Saramago foi um amigo da LER e esteve presente em muitas das nossas edições. Recordamos neste número algumas dessas presenças – com isso, os seus livros nunca se ausentarão.
As dezenas de páginas que, por esse motivo, não se publicam agora, regressarão na próxima edição.

 

Francisco José Viegas