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Kindle & Amazon: um novo conceito de obra literária, ou como destruir a leitura

 Bezzos: ele garante que sabe o que se lê. Tem um chip em cada leitor.

 

1. O Kindle é o aparelho de leitura de livros digitais vendido pela Amazon. Mas, mais do que isso, é uma espécie de chip com que a Amazon controla e monitoriza os seus leitores: com o Kindle, sabe quantas páginas eu li, que passagens destaquei, onde parei mais tempo, que livros abandonei a meio, que títulos recomendei – tudo (inclusive, paga aos autores da sua plataforma de acordo com as páginas lidas). A leitura, último refúgio da humanidade civilizada, deixou de ser uma atividade solitária para passar a estar sob escrutínio de um cérebro vigilante que arquiva, organiza e se serve de dados sobre a nossa intimidade (disponibilizando essas informações a outras empresas e aos governos) e os nossos sonhos, supondo que os livros ainda alimentam a capacidade de sonhar, aprender ou perguntar. Cuidado com o que leem: «Every time a reader is online, Amazon can see what they’re up to. Even if it’s anonymous, that’s a lot of data mining», diz Kerry Wilkinson, um dos autores da távola retangular, perdão, do Kindle.

 

2. A Amazon, através do Kindle (e também outros serviços digitais como o Youboox e o YouScribe), pagará aos seus autores consoante as páginas lidas ou não lidas. O que supõe uma monitorização permanente dos leitores (vigiados por um chip) e das suas escolhas através dos aparelhos eletrónicos – uma ameaça evidente à privacidade de cada um. Coisa ainda mais perversa, para calar os recalcitrantes: há um bolo de 53 milhões de euros para dividir entre os autores exclusivos do Kindle, diz a Amazon. James Joyce receberia muito pouco (talvez o monólogo de Molly Bloom escapasse), e muitos contemporâneos veriam os seus direitos de autor reduzidos ao mínimo. A ideia não é apenas perversa; é um ataque frontal a séculos de literatura (“um livro é um todo”) e uma desvalorização da arte de ler, que inclui o direito de saltar páginas para fazer uma sesta.

FJV1 e 2]

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