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As novelas premiadas

Mais novelas do que contos, estas três histórias de Teresa Veiga (n. 1945) planam, antes de tudo, sobre o mistério dos destinos à maneira da mitologia rural. A evocação das Parcas (na primeira, com o mesmo título), da licenciosidade (na segunda) e do demónio (na terceira) elevam-nas e orientam-nos para o universo do fantástico, onde até mesmo o explicitamente impresso nos deixa suspensos sobre dúvidas. Estruturalmente muito bem organizadas estas novelas registam círculos quase inteiros de vida narrados por terceiros. Desde a inversão de vontades: a de uma mãe curiosa e dinâmica que se esforça por introduzir a filha, pouco entusiasta e algo apática, no universo das viagens (entendidas como aventura de descoberta) e da arte; passando pela evocação do dom-juanismo: na pessoa do marquês de Bradomín, actor profícuo (e discretíssimo, como convém) de um vasto número de episódios de sedução consumada, num curto período de tempo e no espaço de apenas um casarão; até à fragmentação do diabo em forma de gente: capaz de fecundação, mas perecível enquanto figuração do mesmo. Os enquadramentos desenvolvem-se numa linguagem plana, sugerindo distância relativamente ao hipotético realismo mágico que uma leitura menos atenta possa evocar (não é casual a referência a Isabel Allende colocada na boca de uma visitante impertinente em «O Maldito, Marianina, e o Feitiço da Rocha da Pena»). Com estas novelas entramos no universo do fantástico e é flectindo sobre ele que Teresa Veiga escreve. [Cotovia, 172 págs.] 

 

Crítica assinada por Dóris Graça Dias na edição de Janeiro de 2009.