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25 livros-25 anos. Uma lista: entre o pó e a posteridade

  

 

 

Por José do Carmo Francisco

 

«Ser conhecido não é o mesmo que ser importante, nós aqui fazemos simples notas de leitura mas só o tempo pode distinguir o pó da posteridade.» Mais palavra menos palavra, foi esta a recomendação que Jacinto Baptista me fez em Agosto de 1978 no velho Diário Popular. Hoje como ontem existem muitos equívocos na História da Literatura Portuguesa. Há cem anos Augusto Gil era mais conhecido do que Camilo Pessanha tal como tempos antes Pinheiro Chagas era mais popular do que Eça de Queirós enquanto, por outro lado, Cláudio Nunes era muito mais divulgado pelos jornais da sua época do que Cesário Verde.

Por todas as razões e mais uma («somos um país pequeno, toda a gente se conhece») é um risco muito grande a elaboração de uma lista deste tipo mas se os leitores perceberem que se trata apenas de uma lista pessoal, tudo se torna mais simples. No meu caso é ainda mais pessoal pois o meu percurso nas Letras é um pouco atípico. Em primeiro lugar porque não passei pelos bancos da Universidade, os meus bancos eram outros e à hora de almoço na velha Parceria A. M. Pereira conheci autores como Romeu Correia, José Palla e Carmo, Natália Correia, Ruben A. e Luiz Pacheco. As coisas aconteciam de modo informal, havia em 1966 Suplementos Culturais nos diversos jornais vespertinos e matutinos, tornei-me assinante da Seara Nova, cujo director-adjunto era o meu colega Vasco Martins.

Uma descoberta espantosa foi o romance A Torre da Barbela de Ruben A. com um prefácio/ensaio de José Palla e Carmo. As Páginas V, as primeiras que li, foram um abalo sísmico para quem vinha de uma Escola Comercial e conhecia apenas os escritores dos livros obrigatórios. Ruben A. não vinha na Antologia oficial mas só muito tempo depois soube porquê. Pois um dos livros que poderia ter entrado nesta lista é a Obra Ântuma de José Palla e Carmo mas a sua data é de 1986. Para quem não se esquece do refinado humor das suas crónicas no Jornal de Letras com o nome civil de José Sesinando, pode fazer uma ideia do conteúdo deste livro que, apesar de tudo, não entra na lista.

Outro livro que poderia ter entrado é o Vida e morte dos Santiagos de Mário Ventura mas é do ano de 1985. Vinha a calhar um livro que é uma revisitação da História no sentido total do termo: a vida de uma família dentro da vida de uma província portuguesa – o Alentejo. Entre o universo pessoal e o espaço político, o herói é a própria terra que salta dos mapas e suja de pó as botas dos homens. Poderia falar de Nenhum olhar de José Luís Peixoto que pisa os mesmos terrenos (Planície) de Levantado do chão de José Saramago mas os heróis do segundo voltam à vida depois da morte enquanto os do primeiro voltam à morte depois da vida.

Sem esquecer Os putos-contos escolhidos de Altino do Tojal numa edição de 2009 da Bonecos Rebeldes mas trata-se de uma reedição com uma selecção do autor, daí ter sido colocada fora do inventário. Já o mais recente livro de poemas de Liberto Cruz tem o problema de ser uma edição de 2012, por isso não pode integrar a lista. Ernesto Rodrigues e Fernando Venâncio são autores das excelentes antologias Crónica Jornalística do século XIX e XX, respectivamente, uma de 2003 e outra de 2004 e também poderiam ter entrado na lista mas já não havia lugar. Tal como não houve para Orlando Neves (Parábola da inocência) de 2002 da Editora Notícias e Fernando Grade, a festejar 50 anos de vida literária em 2012, com Poemas de Natal (2005) da Editora Mic.  Nem lugar para livros de autores tão diversos como João Camilo, Alexandre O´Neill, António Osório, Maria Velho da Costa, Manuel Tiago, Vergílio Alberto Vieira, Maria Ondina Braga, Nuno Júdice, Helder Macedo, Teresa Horta, Manuel Frias Martins, Francisco Bugalho, Joana Ruas, José Saramago, Valter Hugo Mãe, Maria Alzira Seixo, Emanuel Félix ou Teolinda Gersão. Uma lista como esta pode dar origem a outra lista e assim sucessivamente.

Mas não vale a pena prolongar a discussão. O que está feito está feito, tudo nas escolhas é absolutamente relativo e daqui a 25 anos outras listas com outros nomes surgirão nesta ou noutra Revista. A vida é um mistério, não um negócio. Se fosse um negócio os ricos compravam a saúde e morriam mais tarde que os outros. E quem diz saúde diz talento para escrever – que não é coisa que se compre na vida de todos os dias. E ainda bem.  

 

 

Já não gosto de chocolates. Álamo Oliveira, Salamandra, 1999

A cidade do homem. Amadeu Lopes Sabino, Sextante, 2010

Matar a imagem. Ana Teresa Pereira, Caminho, 1989

Exortação aos crocodilos. António Lobo Antunes, Dom Quixote, 1999

Lisboas. Armando Silva Carvalho, Quetzal, 2000

Ilha grande fechada. Daniel de Sá, Salamandra, 1992

Obra poética – 1948/1988. David Mourão-Ferreira, Presença, 1988

Os meus sentimentos. Dulce Maria Cardoso, ASA, 2005

Trabalhos e paixões de Benito Prada. Fernando Assis Pacheco, ASA, 1993

Tendências dominantes da Poesia Portuguesa da Década de 50. Fernando J.B. Martinho, Colibri, 1996

Contos, fábulas e outras ficções (org. Zetho Gonçalves). Fernando Pessoa, Bonecos Rebeldes, 2008

A cova do lagarto. Filomena Marona Beja, Sextante, 2007

Longe de Manaus. Francisco José Viegas, ASA, 2005

O último cais. Helena Marques, Dom Quixote, 1992

Lillias Fraser. Hélia Correia, Relógio d´Água, 2001

Gente feliz com lágrimas. João de Melo, Dom Quixote, 1988

Vou-me embora de mim. Joaquim Pessoa, Hugin, 2000

De Profundis, Valsa Lenta. José Cardoso Pires, Círculo de Leitores, 1998

O cemitério de Pianos. José Luís Peixoto, Bertrand, 2006

De mãos no fogo. Júlio Conrado, Notícias, 2001

O vale da paixão. Lídia Jorge, Dom Quixote, 1998

Era bom que trocássemos umas ideias sobre o assunto. Mário de Carvalho, Caminho, 1995

Os objectos inquietantes. Nicolau Saião, Caminho, 1992

Domínio Público. Paulo Castilho, Dom Quixote, 2011

O livro do sapateiro. Pedro Tamen, Dom Quixote 2011