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Livros. Notícias. Rumores. Apontamentos.

... e às voltas com um novo livro

«Estou às voltas com um novo livro. Quando, no meio de uma conversação, deixo cair a notícia, a pergunta que me fazem é inevitável (o meu sobrinho Olmo fê-la ontem): e qual vai ser o título? A solução mais cómoda para mim seria responder que ainda não o tenho, que precisarei de chegar ao fim para me decidir entre as hipóteses que se me forem apresentando (supondo que assim seria) durante o trabalho. Cómoda, sem dúvida nenhuma, mas falsa. A verdade é que ainda a primeira linha do livro não havia sido escrita e eu já sabia, desde há quase três anos (quando a ideia surgiu), como ele se iria chamar. Alguém perguntará: porquê esse segredo? Porque a palavra do título (é só uma palavra) contaria, só por si, toda a história. Costumo dizer que quem não tiver paciência para ler os meus livros, passe os olhos ao menos pelas epígrafes porque por elas ficará a saber tudo. Não sei se o livro em que estou a trabalhar levará epígrafe. Talvez não. O título bastará.»

 

Texto publicado hoje aqui.

Ruedo Ibérico até 22 de Janeiro

A exposição itinerante «Ruedo Ibérico – Um Desafio Intelectual», comissariada pelo professor Nicolás Sánchez-Albornoz, pode ser vista em Lisboa até dia 22 de Janeiro, no Instituto Cervantes. A editora Ruedo Ibérico, fundada em Paris em 1961, no Marais (abrindo em 1970 uma livraria na Rue Latran, Quartier Latin), representou várias correntes da resistência ao franquismo. A exposição mostra publicações, correspondência, fotografias e outros documentos, bem como obras de artistas que aderiram ao projecto (casos de Saura, Tàpies, Millares, Ortega, Seoane). O catálogo da editora incluiu obras de escritores como Celaya, Blas de Otero, Espriu, Ángel González e Goytisolo, livros políticos sobre temas espanhóis, Portugal, Cuba, etc., e históricos, traduzindo G. Brenan, H. Southworth, S. Payne, G. Jackson ou Ian Gibson. Exposição e catálogo foram organizados pela Residencia de Estudiantes, com patrocínio da Fundación Altadis e colaboração da Generalitat Valenciana, da Fundación Antonio Pérez e do Ministério da Cultura, além de instituições e coleccionadores que ajudam a evocar a Ruedo Ibérico, extinta há mais de 20 anos. A editora, marcante na história intelectual do século XX e em especial do exílio espanhol, chegou a participar na Feira de Frankfurt a partir de 1971. O director, José Martínez Guerricabeitia (que com Jorge Semprún assinara em 1965 um texto programático no nº 1 dos Cuadernos de Ruedo Ibérico, que terminaram em1979), faleceu em 1986. N. Sánchez-Albornoz, co-fundador da editora e primeiro presidente do Instituto Cervantes, é filho do historiador Claudio Sánchez-Albornoz, embaixador em Lisboa até ao reconhecimento da Junta de Burgos por Salazar. Para memória, aqui e aqui. [Francisco Belard]

Tabacaria e Pessoa

A revista Tabacaria vai voltar a ser editada, «não necessariamente com esse nome», garantiu hoje Inês Pedrosa, directora da Casa Fernando Pessoa, em entrevista ao jornal Público. «Tem de ser bilingue, além de fortemente literária. Pessoa já não é só de Portugal - aliás, nunca foi. Temos também um projecto de edição contínua de textos em torno de Fernando Pessoa com o grupo editorial Leya. Estamos a estudar o modelo.»

Saramago e o golpe dos sapatos

«Tardia como em geral a justiça o é, mas definitiva. Afinal, não era assim, faltava-nos o golpe final, faltavam-nos ainda aqueles sapatos que um jornalista da televisão iraquiana lançou à mentirosa e descarada fachada que tinha na sua frente [George W. Bush] e que podem ser entendidos de duas formas: ou que esses sapatos deveriam ter uns pés dentro e o alvo do golpe ser aquela parte arredondada do corpo onde as costas mudam de nome, ou então que Mutazem al Kaidi (fique o seu nome para a posteridade) terá encontrado a maneira mais contundente e eficaz de expressar o seu desprezo. Pelo ridículo. Um par de pontapés também não estaria mal, mas o ridículo é para sempre. Voto no ridículo.»

 

Excerto de um texto publicado hoje no blogue de José Saramago.

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